domingo, 26 de setembro de 2010

É primavera

Em vão, centenas de milhares de homens, amontoados
num pequeno espaço, se esforçavam por desfigurar a
terra em que viviam. Em vão a cobriam de pedras
para que nada pudesse germinar; em vão arrancavam
as ervas tenras que pugnavam por irromper; em vão
impregnavam o ar de fumaça; em vão escorraçavam
os animais e os pássaros - Em vão…
Porque até na cidade, a Primavera é Primavera.
—Tolstói, em "Ressurreição"


Uma pequena lufada apenas e o chão fica logo coberto de vermelhos e amarelos, roxos e rosas, dos ipês, das quaresmeiras e das muitas árvores que não conheço o nome, mas me consola a certeza de não ser a única na cidade. E não obstante, a primavera chegou, indiferente a nomes e com ela os tapetes floridos que se descortinam a céu aberto e se esparramam pelo chão dessa cidade, maravilhosa em qualquer estação, mas quando a primavera chega...
Há orquídeas em exposição no Jardim Botânico, e qual não foi minha surpresa ao descobrir durante pesquisas que é ingrediente em nossa mesa uma orquídea não tão bela como suas primas ou irmãs, mas que talvez seja mais famosa e tenha usufruído de muito mais prestigio e longevidade que as primeiras, e que seu perfume tenha inebriado desde o império asteca às cortes inglesas e francesas. Que foi um dia muito mais rara do que a mais rara de todas as orquídeas negras e pagava-se por cada pistilo seu fortunas em moedas de ouro.
Debutou na Europa como ingrediente de remédios complexos, indo parar nas boticas de famosos doutores, mas aos poucos foi ocupando o lugar de honra que lhe era destinado; a mesa da realeza.
Não veio da África, como muitas de suas irmãs, mas da Mesoamérica e como todos os tesouros descobertos pelos espanhóis nesse continente foi surrupiada por mãos ávidas numa tentativa frustrada de ser plantada em solo europeu, mas, caprichosa não cedeu.
Aos colonizadores nunca lhes bastou experimentar, era preciso se apropriar, porém seu solo não conseguia multiplicar nem esse nem os outros tesouros trazidos das Américas do Sul e Central, a terra não se prestava ao plantio dos frutos importados e ao clima faltava calor e umidade que os fizesse desenvolver.
A baunilha é uma orquídea com pistilos de verde variado que quando secos escurecem como carvão. Intensamente saborosa, tem aroma incomum à maioria dessas flores e um sabor delicado e característico. Ainda é um produto razoavelmente caro e a líquida que encontramos nos supermercados não é baunilha de verdade, mas um composto aromatizado.
É possível fabricar o extrato de forma caseira, leva tempo para aromatizar, mas não é nada complicado.

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