A cerimônia do chá foi
um ritual desenvolvido pelo zen budismo que aos poucos foi esquecido na China,
mas encontrou eco num Japão admirador na época dos modismos chineses. De acordo
com o livro de hábitos e costumes do povo chinês a cerimônia teve início quando Kuanyin* ofereceu uma xícara de chá a seu professor, Lao-Tzu fundador do
taoísmo.
A Cerimônia do Chá ou
Caminho do chá , o cha-do, é a expressão mais antiga e mais profunda da devoção
oriental. O ritual que tem raízes na tradição zen obedece a movimentos
seqüenciais delicados e precisos como numa dança onde a concentração deixa de
fora tudo o que não é chá, descansando no espaço não conceitual, em harmonia
com a natureza.
Wabi, (despojamento),
Sabi (unidade) Shibui (beleza incondicional) e Fura (integração), são um
convite do Tao para observador e observado se fundirem em harmonia e união.
Existem percepções que
podem ser experimentadas, mas são dificilmente descritas com sucesso através
dos conceitos ou palavras, o Wabi Sabi é uma delas. A proposta básica é ter
como referencial uma estética bem diversa dos padrões de beleza, perfeição e
enquadramento aos quais somos habituados desde o nascimento, que por serem
padrões inatingíveis nos levam a uma experiência superficial e angustiante da
existência.
Wabi Sabi é um convite
para a contemplação das coisas mais simples e tangíveis de uma forma direta sem
o prejuízo da preferência ou da rejeição. Nascido no seio da cultura Zen
budista o Wabi Sabi representa a maneira dos monges encararem a beleza e a
impermanência da existência, permeada pelo despojamento, simplicidade,
humildade, contenção, contentamento e melancolia, tendo como pano de fundo a
sabedoria artística da própria natureza.
O ideograma chinês que
representa a casa de chá (sukia) é um conceito que pode ser traduzido como a
morada da vacuidade, uma referência budista onde forma e vazio são uma coisa
só. O sukia não é erigido para a posteridade, construído de maneira a refletir
a existência representa a temporalidade e a impermanência. A palha que o cobre sugere
perecibilidade, os pilares finos que o sustentam representam a fragilidade da
existência, o bambu usado como apoio remete à leveza com que a existência deve
ser encarada e os implementos exibidos são rústicos e despojados refletindo o desapego.
No sukia a decoração é simplíssima, um arranjo floral, a representação de um
caractere pintado em bambu e pendurado numa das paredes que descreve de forma
pictórica algum evento ligado ao fluxo da natureza. Os números pares de utensílios
são evitados na casa de chá e representações de indivíduos não são exibidas, o
desafio é criar um ambiente com diversos materiais aparentemente incompatíveis
entre si, que estão, no entanto, intimamente ligados à cultura oriental criando
um efeito final da beleza como expressão de naturalidade e relaxamento.
*Kuanyin- forma
feminina de Avalokitesvara ou Cherenzig, o Buda da Compaixão