quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cheguei da China com 11 horas de fusos que me fazem trocar a noite pelo dia, mas absolutamente encantada e cheia de manias boas. A viagem foi um patrocínio da British Airways para que a pesquisa do meu próximo livro fosse terminada, e fomos eu e minha fotógrafa favorita fazer letras e imagem, me aguardem! Sou suspeita para falar da China porque gosto de história, cinema, literatura e poesia chinesa, acho que dão um show em artes manuais, marciais e contemplativas e estando lá pude compreender e experienciar, embora 2 semanas não seja muito para tanto, o porque das muitas guinadas políticas nesse país que inventou quase tudo o que conhecemos e desfrutamos desde as letras escritas ao papel moeda e editorial até a tecnologia hidráulica, engenharia mecânica e a base tecnológica a partir da qual o mundo hoje funciona. Das manias as quais me apeguei, o chá assunto do livro e macarrão com shoyu (molho de soja) de dupla fermentação. O dia na China começa com um brunch um pouco mais consistente do que estamos habituados, e nele o macarrão (invenção chinesa exportada para Veneza por Marco Polo) é uma constante, os dim sum (pãezinhos recheados) vêm quentinhos e deliciosos, os consomês são saborosíssimos e o iogurte chinês é uma surpresa agradável e consistente que eles tomam com canudos. a isso se aliam sucos, saladas etc..etc...
Ontem a atriz Débora Nascimento , a Tessália de Avenida Brasil, deu uma entrevista no Jô contando dos 5 meses em que viveu na China, o que já faz um bom tempo, e muitas das coisas que ela relatou já não existem mais porque o país tem pressa e anda rápido, comprei um guia de Shanghai na Inglaterra que tinha 5 anos e aproximadamente 30% a 40% das informações já não procediam, muitos museus, galerias e restaurantes já tinham se mudado para Pudong, bairro perto do aeroporto internacional que cresce sem parar. A China não para, é como um cultivar onde crescem não moitas de chá, mas edificios e shoppings, a surpresa? Quase não se houve barulho, imaginem o matraquear incessante de máquinas num país onde a população já é maior que 1 bilhão e meio, seriam todos neuróticos, e não são. Andam devagar e falam baixinho no celular, em geral são gentis e solidários quando nas ruas ficamos perdidos sem que falem uma palavrica de nada ou consigam ler nossas letras estranhas, a geração por volta dos 20 começa a falar inglês e é de uma gentileza com a qual não estamos por aqui muito acostumados. Tínhamos ainda dinheiro suficiente para o táxi do centro de Hangzhou até a rodoviária, mas o melhor era tentar um banco, que já tinha encerrado o expediente, mas não a porta e o bancário solidário, um garoto de vinte e poucos se ofereceu para nos "emprestar" o dinheiro e negociar a corrida e/ou ir conosco até o destino final, longe do seu. Fez conosco um último tour numa das ruas de pedestres e vimos coberto por vidros os caminhos quase intactos da dinastia Tang sob nossos pés, outras estórias virão no livro, parecidas ou melhores que essa.
Espero muito conseguir uma bolsa para voltar para a China e me especializar na arte do chá, apenas uma das muitas delicadezas chinesas que com o tempo espero me aprofundar. Quanto aos bons vícios, o chá puer é um deles e o macarrão é integral com brócolis no alho e azeite, regado ao final por gotas de shoyu e não queijo ralado, uma delícia também substituindo por miojo, sem o pozinho, ou bifun (macarrão de arroz). Bon appétit et bonjour!