sábado, 3 de dezembro de 2011

Medias lunas argentinas

Recém chegada e chocada com minha semana em Buenos Aires explico: fui totalmente surpreendida por preços que da noite para o dia subiram vários zeros depois da vírgula e com muitas explicações para tal, e como é típico do povo argentino tomaram logo de assalto as ruas em passeatas e discursos inflamados, recortando as noites em showmícios e fogos, los hermanos jamais deixam barato.
Mas de forma bem egoísta devo dizer que o que mais me impressionou foi o quesito comida já que meu turismo glutão está intimamente ligado a cidade de Buenos Aires. Confesso que tenho certa vergonha em admitir que minhas escapulidas a cidade têm como meta comida e bebida, principalmente medialunas, os croissants argentinos. Sempre ávida pelo café da manhã em Buenos Aires me desperto mais cedo do que de costume na esperança de sorver os últimos vapores adocicados que emanam da bandeja de pães. Mas para meu desapontamento dessa vez me deparei com o triste espetáculo do fim do famoso croissant adocicado em detrimento, quem sabe, de uma maior margem de lucro nas vendas. Provei vários em locais diferentes na tentativa desesperada de encontrar aquele que me trouxesse de volta as canções de Gardel ou os poemas de Jorge Luis Borges, mas em vão, na língua derreteram apenas massa fofa e adocicada e quiçá gordura hidrogenada que com boa vontade me lembrou o pão meio doce recheado com queijo de um bar que de tão pobre era apenas freqüentado por moscas locais até que eu e Sara minha prima causamos espanto adentrando o lugar para uma boquinha nervosa e esfomeada,isso foi em Tracunhaém,conhecem?
Não sou louca por manteiga, mas onde já se viu chamar de croissant um pão que usa como escusa qualquer outro tipo de gordura metida a besta recheada de propaganda enganosa tentando fazer as vezes de gordura saudável? Saudável é gordura do leite de vaca ou de azeitonas ou as gorduras à partir de vegetais, a gordura hidrogenada e a famosa margarina são um veneno dos diabos, diferem do plástico por apenas uma molécula e olha que é capaz de existirem plásticos até mais saborosos!
Também gastamos sola de sapato e uma pequena fortuna num restaurante que de tão escuro parecia carecer de interesse que namorássemos cada prato, ora a gente começa a comer com os olhos e depois com o inevitável, e escuridão na hora de comer só se justifica se o chef for tímido demais para não querer ver seus pratos comentados...
Nos lugares tradicionais vai-se obrigatoriamente para desfrutar de um ambiente que apesar das forças contrárias ainda sobrevive, como no Café Tortoni onde o garçon pode te chamar de mi reina se você dá sorte, o que vale qualquer comida que por força da fome se tenha que enfrentar, lá a comida é tipo lanche, nada a reclamar.
Não teria coragem de sugerir uma manifestação nas ruas pela volta das medias lunas argentinas, não que me falte vontade, então fica aqui impresso meu protesto por mais uma importante instituição de valor inestimavel que cai por terra.
Para não pensarem que é exagero meu vale uma olhadinha nas páginas que se seguem,a segunda para minha felicidade traz a receita ilustrada. Esperando o que? Mãos a obra pra o pão de café da manhã de domingo, sem esquecer do doce de leite pra acompanhar! Trés bom appétit!

http://cafeconmedialunas.blogspot.com/ http://www.panelaterapia.com/2010/10/medialunas-argentinas.html