quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

trufas de panetone

Quarta feira a noite pra quem não tem tv a cabo e precisa respirar um pingo depois de muitas horas de escrita e que além do mais não curte futebol tem que ser no mínimo gastronômica, modesta que seja, mas gastronômica. Então me preparando para fugir do tédio, comprei na volta para casa uma 1/2 garrafa de tinto Montes Alpha chileno, um bloco de queijo tipo feta de cabra, maçãs crocantes (pensei em inglês crispy e não tenho certeza dessa tradução, mas...) e como uma coisa leva a outra pensei que umas trufas fariam boa companhia a minha pequena farra, vinho pra mim termina sempre em doce. Como a coisa que mais gosto no natal são os bolos, um que anualmente um grande amigo faz e que para acompanhar preparo um sorvete de creme e conhaque, e panetone, gosto muito de panetone, e como por acaso(...) tinha um na despensa...A receitadas trufas é bem básica e fácil.

ingredientes:

1 barra de chocolate semi amargo
100 ml de creme de leite
1 xícara de panetone em pedacinhos
2 a 3 gotas de azeitede trufas (opcional)
cacau em pó

preparo:

Leve o chocolate para dereter no banho-maria, sobre panela que não deixe escapar vapor, o que encresparia o chocolate, e antes que esteja completamente derretido acrescente o creme de leite e o azeite e depois os pedaços de panetone mexendo bem. Deixe esfriar e leve por 15/20 minutos a geladeira. Coloque 1/2 xícara de cacau em pó num bowl, e se tiver experiência faça as trufas com a ajuda de duas colheres de chá, se não, enrole como brigadeiros e passe pelo cacau, depois retorne a geladeira por 1 hora et bon appétit!

sábado, 17 de novembro de 2012

Almoço rápido pra domingo

O friozinho convida, mas amanhã é domingo dia de pouco trabalho, assim que: o almoço tem que aquecer, ser saboroso e principalmente rápido, então mãos as compras para  já estar tudo estocado antres de começar. Nunca é demais lembrar que os ingredientes têm que ser sempre os melhores que se pode comprar, preferencialmente os orgânicos, um pouco caro? Garanto que sai mais barato e saboroso do que comer fora, e não vai ser nem preciso enfrentar fila e a chuva fina desse invernico estemporâneo então vamos lá! O pão pode ser feito em casa para molhar em azeite especial, vale uma olhada no http://www.youtube.com/watch?v=zh-tjdbhlws para preparar pão mediterrâneo saboroso e fácil, na lista de compras fermento para pizza, farinha de trigo, alecrim ou orégano, e para o próximo prato: sopa de pêras com rúcula, são 2 peras por pessoa, rúcula e amêndoas peladas e fatiadas, a sopa pode ser servida quente ou fria, depende de como está o dia e o gosto do freguês, fica igualmente saborosa. Prato principal? Risoto de aspargos frescos e brie e pra terminar banana da terra assada no forno ao fleur du sel, 25 ml de suco de laranja, canela em pó e grana padano ralado, hummmmmmmmmmmmm, o vinho escolhido para acompanhar foi o chileno Ecos de Rulo carmenere safra 2009.
Para a sopa descasque, desosse e cozinhe as duas pêras em 1 copo de água filtrada com 5 ou 6 folhas de rúcula, quando as pêras estiverem macias pocesse tudo e tempere com sal e azeite, toste as amêndoas em frigideira para guarnecer a sopa quando servir em bowls individuais. Para o risoto, primeiro o caldo feito com alho e cebolas picados e refogados junto com as pontas mais duras da base dos caules de aspargos,acrescente água e sal, coe e reserve. Para o risoto arroz arbório, NÃO LAVE, é preciso manter o amido, refogue alho e cebola, junte o arroz, o caldo e água quente se for necessária, quando estiver próximo do cozimento coloque os talos de aspargos picados, depois 50 gramas de grana padano ralado e no fim ao invés da manteiga 2 a 3 colheres de sopa de brie, mas só o miolo sem a casca, se quiser pode acrescentar 1/2 copo de vinho branco ou champagne junto com o caldo, ou não, como diria Caetano...
A banana da sobremesa leva um corte ao comprido na casca, que uma vez aberta é regada com a mistura de suco, sal e canela e por cima o queijo ralado. Trés bom appétit e trés bon dimanche!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O feijão nosso de cada dia nos dai hoje...

Acordei saciada pelo feijão, farofinha, banana e couve que devorei no jantar (também!) e pronta para me debruçar sobre esse herói nacional, agora sem garfo e nem faca, recolhi o jornal distraídamente enquanto topava com o  porteiro novo na porta. Bom dia breve e na intenção de apenas folhear abri o jornal numa página internacional que falava sobre a China atual, meu assunto do momento! Babei quando li Martin Jacques, autor de Quando a China Governar o Mundo, dizer que a China não é a ditadura que no ocidente imaginamos, porque se fosse assim o povo não seria tão conivente. Antes que pulem da cadeira me explico: o que acontece aqui é que ao entrarmos em contato com idéias diferentes das nossas temos uma dificil digestão, mas depois de tanta disgressão voltemos ao que interessa: feijão e pasmem...China....
Até abril deste ano 44% das 78,2 mil toneladas de feijão-preto importado pelo Brasil vieram da China,e me pergunto, que conta é essa? O feijão, orgulho nacional é parte da cesta básica e dobradinha de invencíveis PFs servidos nos bares e restaurantes do país afora, quando foi que sumiu e ninguém viu? É verdade que já há muito não produzimos o tanto que comemos, mas cá com meus botões pensei que quando muito vinha da Argentina, pois é, vem de muito mais longe atualmente... Sempre tenho medo de comidas que crescem longe dos nossos olhos, principalmente quando são cesta básica, e como dizia meu avô; " o que engorda o gado é o olho do dono" e quando o olho tá longe, o quê? Destesto circunflexos no quê e desconfio que nem sei usar, desconfio também de comida que vem de longe e precisa cair do galho antes da hora sem desenvolver propriedades necessárias para alimentar de verdade, com propriedade(s), com a desculpa insossa de baratear custos, é no mínimo esquisito num país que como já dizia Caminha, " que em se plantando tudo dá" a gente ter que importar.
Embora preferência nacional o feijão pode as vezes nos fazer ruborizar só de pensar nos gases que provoca e que nos fazem desistir, mas não precisa ser assim e nem é necessário comprar e consumir um transgênico colombiano que já vem com as fibras amaciadas para evitar constrangimento. Nas quintas feiras a feira orgânica do meu bairro oferece entre as muitas frutas, verduras e hortaliças frescas, feijão preto orgânico não transgênico. O quilo não é barato, R$10, mas vale cada grão que não sei se é diferente do oferecido nos supermercados ou se é apenas a quantidade de agrotóxico que faz a diferença, e eu que antes dele há anos já não comia feijão preto caio de garfo e até faca pra não deixar nada no prato. Uma pitadinha de cominho e de coentro fresco ou em grãos bem processados, gotinhas de molho inglês, pitadinha de tabasco e um nadica de mostarda em pó, sempre acompanhado de umas folhas de louro (as brancas asiáticas são um espetáculo!) dão  gosto sensacional pra comer com arroz branco orgânico acompanhado de farofinha de alho, banana fatiada grelhada, regada a suco e raspa de laranjas e junto a isso uma couve refogada, et voilá um maná dos deuses pra ser saboreado no sábado! Pra quem gosta do sabor das carnes é só acrescentar um tofu defumado que faz as vezes dos embutidos sem decepcionar, eu daqui vou pro frio danado, assim que bon appétit para quem fica! Ah, nos sábados tem feirinha orgânica na Glória e acho que também na Lagoa do lado da igreja São José, bom final de semana!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cheguei da China com 11 horas de fusos que me fazem trocar a noite pelo dia, mas absolutamente encantada e cheia de manias boas. A viagem foi um patrocínio da British Airways para que a pesquisa do meu próximo livro fosse terminada, e fomos eu e minha fotógrafa favorita fazer letras e imagem, me aguardem! Sou suspeita para falar da China porque gosto de história, cinema, literatura e poesia chinesa, acho que dão um show em artes manuais, marciais e contemplativas e estando lá pude compreender e experienciar, embora 2 semanas não seja muito para tanto, o porque das muitas guinadas políticas nesse país que inventou quase tudo o que conhecemos e desfrutamos desde as letras escritas ao papel moeda e editorial até a tecnologia hidráulica, engenharia mecânica e a base tecnológica a partir da qual o mundo hoje funciona. Das manias as quais me apeguei, o chá assunto do livro e macarrão com shoyu (molho de soja) de dupla fermentação. O dia na China começa com um brunch um pouco mais consistente do que estamos habituados, e nele o macarrão (invenção chinesa exportada para Veneza por Marco Polo) é uma constante, os dim sum (pãezinhos recheados) vêm quentinhos e deliciosos, os consomês são saborosíssimos e o iogurte chinês é uma surpresa agradável e consistente que eles tomam com canudos. a isso se aliam sucos, saladas etc..etc...
Ontem a atriz Débora Nascimento , a Tessália de Avenida Brasil, deu uma entrevista no Jô contando dos 5 meses em que viveu na China, o que já faz um bom tempo, e muitas das coisas que ela relatou já não existem mais porque o país tem pressa e anda rápido, comprei um guia de Shanghai na Inglaterra que tinha 5 anos e aproximadamente 30% a 40% das informações já não procediam, muitos museus, galerias e restaurantes já tinham se mudado para Pudong, bairro perto do aeroporto internacional que cresce sem parar. A China não para, é como um cultivar onde crescem não moitas de chá, mas edificios e shoppings, a surpresa? Quase não se houve barulho, imaginem o matraquear incessante de máquinas num país onde a população já é maior que 1 bilhão e meio, seriam todos neuróticos, e não são. Andam devagar e falam baixinho no celular, em geral são gentis e solidários quando nas ruas ficamos perdidos sem que falem uma palavrica de nada ou consigam ler nossas letras estranhas, a geração por volta dos 20 começa a falar inglês e é de uma gentileza com a qual não estamos por aqui muito acostumados. Tínhamos ainda dinheiro suficiente para o táxi do centro de Hangzhou até a rodoviária, mas o melhor era tentar um banco, que já tinha encerrado o expediente, mas não a porta e o bancário solidário, um garoto de vinte e poucos se ofereceu para nos "emprestar" o dinheiro e negociar a corrida e/ou ir conosco até o destino final, longe do seu. Fez conosco um último tour numa das ruas de pedestres e vimos coberto por vidros os caminhos quase intactos da dinastia Tang sob nossos pés, outras estórias virão no livro, parecidas ou melhores que essa.
Espero muito conseguir uma bolsa para voltar para a China e me especializar na arte do chá, apenas uma das muitas delicadezas chinesas que com o tempo espero me aprofundar. Quanto aos bons vícios, o chá puer é um deles e o macarrão é integral com brócolis no alho e azeite, regado ao final por gotas de shoyu e não queijo ralado, uma delícia também substituindo por miojo, sem o pozinho, ou bifun (macarrão de arroz). Bon appétit et bonjour!




quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Appellation d'origine contrôlée


Digam o que disserem, mas em se tratando de honestos prazeres os franceses são o que há! Na França, patrimônio de orgulho nacional latícínios e vinhos são d'appellation d'origine contrôlée, que é uma forma de controle de produção que evita que se compre gato por lebre. Em se tratando de queijos (laticinios em geral) e vinhos tudo é devidamente mapeado e medido, cada terroir tem tantas parreiras que produzem tantos litros e cada vaca segue o mesmo mapeamento, assim nada leva um pouquinho mais daquilo ou um pouquinho menos do outro... Não quer ser appellation d'origine contrôlée? Pas de probléme, mas nada de rótulos, vire-se como puder! 
Desde há séculos a comida produzida em solo frances é orgulho nacional e patrimônio cultural, diversas confrarias e marcas registradas, como é o caso da tarte tatin ou do champagne, dão aos franceses o que eles merecem: o título de experts dos sentidos, porque claro, não vamos nos esquecer dos perfumes que fazem parte dessa cadeia sensorial francesa, seja em vidros ou em pratos e nem dos filmes e canções que levaram as almas mais românticas a se debulharem entre uma e outra tragada de um puro gitane ou gauloise acomapanhado de um pichet de bordeaux num dos milhares de cafés e bistrôs do país. Mas como diz meu neto, nem sempre os contos terminam com " e foram felizes para sempre", assim as grandes marcas de turismo gastronômico invadiram a França e bom, a desconfiança passou a fazer parte do cardápio do dia. Os pequenos negócios tradicionais foram a bancarrota e os que insistiram em sobreviver foram se adaptando as novas regras de consumo absolutamente contrárias aos princípios da gastronomia francesa. Hordas de turistas viajando para respirar Paris, mas presas constantes dos Mac Donalds e Starbucks da vida abriram porteiras para um comércio insosso e pouco honesto que feriu fundo o orgulho nacional. Nada contra o turismo, mas a França não é só Louvre ou torre Eiffel, a França é acima de tudo um joie de vivre que está nessas pequenas jóias que só se encontram lá, reproduzidas aqui e acolá por poucos e grandes chefs franceses que fora de seu país nos dão imenso prazer em frequentar as mesas de sua casa e claro que não são prazeres baratos, mas arrancam suspiros inesquecíveis do fundo da alma que nos fazem crer que depois da primeira garfada já se pode morrer em paz e adentrar o reino dos céus sem escalas. Pois para a felicidade de todos que apreciamos a culinária francesa o governo se encheu de brios e colocou na mesa uma nova legislação pra gourmet nenhum botar defeito; a comida nos restaurantes franceses vai ter que contar ao que veio,e, de onde veio! Já no fim desse ano os restaurantes serão obrigados a informar a origem de seus alimentos deixando assim que seus clientes saibam se a comida servida é fresca ou congelada, se é preparada no estabeleimento ou se foi pré preparada em outro local, se a medida agradou a todos? É claro que não, mas para nós que respeitamos o alimento e de uma forma ou de outra fazemos dele nosso ganha pão, a medida é sensacional e deveria não apenas ser estendida para todos os países, mas defendida por todos os consumidores! 
Há que se tirar mais uma vez o Toque Blanc (chapéu de chef) para a gastronomia francesa que não se rende ao mal gosto pouco saudável das grandes cadeias de fast food! Vive la France!

sábado, 18 de agosto de 2012

Saladinha, pão de tomates blushed integral e um copinho de vinho

O dia amanheceu fenomenal, céu turqueza, brisa discreta, sol de outono que mistura maresia e o perfume de seiva de folhas maduras que flana pelas ruas do Leblon. O tempo "ruge" como um leão e a rua chama para uma caminhada fresca antes do compromisso da tarde que me enche o coração de alegria, Kalu Rinpoche está no Rio de Janeiro. Não dá pra tudo no mesmo dia e como disse a chef Paula Labaki, chef atarefado termina comendo miojo que claro pode ser acrescido de azeite de trufas, aspargos grelhados, pecorino em lascas e o indefectível pacotinho substituído por fleur du sel que minha amiga Simoneta trouxe ontem pra mim, mas não vai ser nada disso não, pra quem fez comigo pão e meditação sabe como é fácil produzir um pão bacana com 1 hora de espera apenas, tempo de fazer a mistura, deixar fermentar,e assar. O almoço vai ser rápido depois da caminhada até o Jardim Botânico: sanduba com queijo caseiro (receita no Rota do Oriente) tomates e folhas orgânicas salpicados com endro fresco do vasinho da horta, regar com vinagrete de maracujá e amarrar tudo com uma taça de pró seco estupidamente gelado, pra terminar um pouco do sorvete de creme com cookie de gengibre que preparei ontem e pernas para o evento da tarde de hoje que prossegue até amanhã, vai lá a receitinha super fácil 

Pão integral com tomate e grana padano

300 gr de farinha integral
200 gr de farinha de trigo
10 gr de fermento biológico granulado(para pizza)
200 ml de água
70/80 gr de grana padano(parmesão italiano ralado)
70 gr de blushed tomatoes (um ponto antes de desidratarem)
sal a gosto
saco plástico grande para alimentos

Nem sempre toda a água vai ser necessária, tudo depende do tipo de moagem da farinha. Para começar misture os três primeiros ingredientes e junte a água aos poucos,  primeiramente com um garfo e depois com as mãos rapidamente apenas para agregar as farinhas e fermento a água, o resultado deve ser semelhante a uma argila ou massinha de criança, nem dura, nem mole, agora acrescente o queijo, o tomate e o sal e misture apenas, não sove! Faça uma bola e coloque no saco plástico, antes de fechar o saco sopre e deixe no pão sua marca! O saco vai criar um ar que ajuda a fermentar a massa, feche e espere aproximadamente 40 minutos, 1 hora. Ligue o forno, a 200o, coloque um pequeno pote com água para criar umidade, espalhe farinha de trigo nas costas do tabuleiro que pretende usar ( é a melhor maneira de concentrar o calor necessário para assar o pão) formate o pão e leve para assar por 30 minutos, quando tirar do forno dê tapinhas no fundo, o som deve ser oco. Leve para esfriar numa grade, não corte o pão recém saído do forno para não solar et bon appétit!

domingo, 22 de julho de 2012

Comida de pubs e feiras livres na Inglaterra



O verão na Inglaterra é o mais fraco dos últimos anos, as temperaturas em torno dos 15 estimulam a chuva fraca e constante e os dias cinzas convidam a ficar entre quatro paredes. Mas de quando em vez uma nesga de sol e uma pontinha de calor aparecem e como é sábado os mercados de quinquilharias e de comida pululam! Agarrei a segunda opção e depois de muitos minutos na fila o 71 chegou para nos deixar em Staines que é uma cidadezinha muito simpática nos arredores do aeroporto de Heathrow.
Basta um pouco de sol e todos se cobrem até as raízes dos cabelos claríssimos de filtro solar, 50 pelo menos, para desnudar braços e pernas ao sabor de um possível calor. Desde sempre o assunto clima é o favoritos dos ingleses para puxar conversa e hoje, no trajeto do ônibus não foi exceção, contentes porque o dia começa mais cedo e termina mais tarde são capazes de extravasar sua felicidade com estranhos que se sentem ao seu lado por mais de cinco minutos no ônibus, talvez os londrinos sejam mais fleumáticos e resistentes a esse tipo de coisa, mas no interior as pessoas são dadas a essas pequenas intimidades. O trajeto é curto e logo estávamos na porta do shopping Center que leva a rua principal onde barracas estavam montadas, as feiras ao ar livre são uma tradição na Inglaterra desde que o escambo existe, são as mães das quitandas e supermercados que apareceram mais tarde, algumas ainda guardam uma despreocupação com a higiene que se um dia infestou e matou populações inteiras, hoje pode causar uma desinteria ou mal estar passageiro no máximo, observei a moça guardando com luvas descartáveis meu pão num saco e com as mesmas luvas pegou meu dinheiro e me deu o troco... Se o pão estivesse tão saboroso quanto estava bonito teria valido a pena, mas da mesma maneira que o cheese cake de aparência linda, estava duro e insosso, enfim a gente guarda na memória delícias que já não se repetem. Na tentativa de diminuir a frustração o jantar foi num pub, a sigla para “public utility bar” bar de utilidade pública, quase uma ONG, rs. O Pheasant é um lugar muito simpático, também nas redondezas de Heathrow onde se come uma verdadeira comida de pub. Muito farta, típica e com combinações inusitadas que apenas os ingleses podem pensar em fazer as quais confesso, terminei me acostumando ao longo dos anos, mas nem sempre aderindo. As massas vêm geralmente acompanhadas de salada e batatas fritas, a intenção é produzir pratos com “sustânça”. Minha lasanha vegetariana, claro, veio com salada e batatas fritas que belisquei porque as batatas inglesas são imbatíveis em qualquer formato, tudo acompanhado de amigos queridos e uma garrafa gelada de Sancerre, ou seja: melhor impossível. A sobremesa é sempre mais elaborada do que se possa imaginar para um pub, pedimos creme brulée com morangos e um baked Alaska que veio acompanhado também de morangos firmes, doces e suculentos, no auge da estação. Algumas fatias de chedar e pão de grãos orgânicos mais tarde estou de malas prontas para voltar.
Próxima parada, Recife, vamos ver o que encontro de novo por lá.
Bon appétit!

domingo, 24 de junho de 2012

Plantando batatas para colher cerejas


Fechamos a Rio+20, uns achando que foi um prejuízo, outros, como eu, esperançosos de que aqueles que nunca ouviram falar em sustentabilidade ou não tinham idéia do que fosse possam agora se interessar um pouco mais. No dia a dia pensamos em hortas, sacolas plásticas, economia de água e luz, mas cá entre nós deu pra perceber que o problema é muito maior do que nossas pequenas ações possam mesurar, não que sejam tão pequenas a ponto de não importar, mas precisamos, talvez, rever alguns de nossos conceitos. Nenhum de nós, acho, tem a menor ilusão de que os países ricos de hoje para amanhã vão contemplar as idéias de sustentabilidade porque são necessárias...Desde que o mundo é mundo são as atitudes que contam, então trazer soluções inusitadas e pouco modestas talvez dêm uma tônica diferente que conte em mudanças efetivas. Mas para isso é preciso entender que ao plantar batatas, nunca colheremos cerejas, que cada árvore precisa de uma semente específica para nascer como tal, fora isso, o solo precisa ser próprio, a água necessária precisa estar disponível e as condições climáticas favoráveis. Gritar para uma batata que ela deve nascer cereja não é efetivo, da mesma forma como querer acabar com o tráfico consumindo ou investindo em drogas não opera resultado, assim como querer defender os animais, as matas e o ar que respiramos sem diminuir o consumo de carne é uma conta que não fecha. Não digo aqui que carnívoros devem abandonar seus hábitos da noite para o dia, eu mesmo tenho três filhos que comem carne, mas talvez diminuir o consumo seja a solução. Hoje graças as muitas pesquisas na área, sabemos que :
1-a criação de gado em terras florestais tem a ver com as queimadas que dizimam a flora e fauna local para dar lugar a gramíneas de pasto para gado e os gases desse gado na quantidade que são expelidos afetam a camada de ozônio e o ar que se respira
2- a criação de gado é demasiada por conta do alto consumo de carne
3- os animais de abate são criados a base de antibióticos, hormônios e as vezes pastos infestadaos de agrotóxicos (dê uma olhada no que hormônios e antibióticos não prescritos causam a saúde, aproveite e leia sobre agrotóxicos)
4- a carne em excesso trás enormes prejuízos a saúde e talvez, por causa dos hormônios que contém, faça hoje populações obesas, afinal esse hormônio dado para o gado, assim como para frango tema intenção de amadurecimento e engorda rapida, pense nisso
5- os derivados de gado e frango não orgânicos são também todos contaminados com os insumos dados a eles, ou seja: laticínios e ovos

Então não se trata de coerência, porque coerência as vezes significa simplesmente manter uma atitude movida pelo hábito. SEJA INCOERENTE! Troque sua idéia velha por uma nova possibilidade, recicle seu pensamento e compreenda que a mudança tem que ser operada e não esperada! Troque sua 2a feira carnívora por uma opção vegetariana, consuma mais orgânicos para que venham a se tornar mais baratos. Outro dia mesmo um celular ou computador, ou mesmo um carro eram comodities para poucos, seu consumo global fez os preços despencarem, depende de nós manter nossas pequenas ações diárias, o que não nos impede de avançar sem medo de ser feliz! Bon appétit toujours!

sábado, 2 de junho de 2012

De Volta a Galiléia

A época é boa para uma visita, os dias já estão esquentando, mas à noite o friozinho ainda pede um edredon leve,comida quentinha e um vinho para acompanhar. Durante a semana fui levar o livro para duas das personagens que figuram nele. Beliscamos queijos, fizemos provas de vinhos, brindamos a feliz parceria e camaradagem que surgiu entre nós por conta da pesquisa, e ontem recebemos um convite para uma pequenissima e especial mostra de degustação de queijos e vinhos em Rosh Pina (http://www.gogalilee.org/festivals.asp?p=9506) que faz parte da programação de um festival de degustação na Galiléia. Os pequenos negócios de laticinios e as boutiques de vinho vão crescendo a todo vapor e vem gente de toda a Israel e também do exterior para conferir as novidades e fazer compras. Rosh Pina antes um moshav é uma pequenina, charmosa e muito exclusiva cidade encarapitada nas encostas do Golan, uma jovem senhora de 120 anos que abriga restaurantes, cafés e pousadas descolados. O clima aqui é um pouco mais ameno do que na maior parte dos lugares em Israel, onde a temperatura nessa época chega aos 35o facilmente e a mais de 40o no verão. A área bastante arborizada convida gente bonita, elegante e despojada para um café, uma sobremesa, um dedo de prosa e um vinho ultra gelado enquanto apreciam a vista de tirar o fôlego.
Houve um tempo em que o patrono do lugar foi o barão de Rotschild, um vídeo pode ser assistido contando a história da cidade no centro administrativo de Rosh Pina, e de lá caminhar até os jardins do barão, inspirados nos de Versailles. Há também na área um hotel/spa luxuoso, que abriga um sítio de produtos orâgnicos e vale à pena pelo menos uma visita (http://www.mizpe-hayamim.com/), situado no alto da colina o hotel é um excelente observatório de onde se tem uma vista privilegiada dos dois mares que banham Israel, o mediterrâneo e o mar da Galiléia, o Kineret. Num fim de semana ensolarado nada melhor do que esticar a viagem até a Zfat, uma das mais antigas cidades de Israel com muita história para contar e muito para se ver. Para terminar o dia uma pequena porção de azeitonas variadas, queijo feta semi cremoso, sopinha quente de batata doce(as daqui são de cor laranja e quando cozidas quase um creme) com uma colherda generosa de shamenet,creme de leite fresco, e ervas da hortinha, pão preto rústico e  cabernet sauvignon. Santé et bon appétit!

sábado, 26 de maio de 2012

Banana para o almoço de Domingo



A banana-da-terra em algumas regiões é conhecida como banana-chifre-de-boi, banana-comprida ou pacovan, são as maiores bananas conhecidas podendo chegar a 500 gramas a unidade, são ricas mais em amido que açúcar e boas para cozimento e para assar. De todas as espécies, das cerca de cem, é a que contém mais vitaminas A e C.  
A banana tem origem na Ásia e embora algumas espécies selvagens já crescessem em solo brasileiro, os portugueses trouxeram outras espécies que foram domesticadas e o clima tropical fez o resto. No Brasil é a fruta mais popular e a segunda mais produzida. Aparentemente a banana é a fruta mais antiga do planeta e aparece em escritos budistas datados de 600 a.C.


Involtini de banana da terra

Ingredientes:

1 banana da terra quase madura
2 a 3 abobrinhas
1 cl de chá de manteiga ou gotas de azeite de trufas (opcional)
azeite
alecrim
2 cls de sopa de queijo parmesão
sal a gosto
passata de tomates
parmesão

Preparo:

abobrinha

Lave bem a abobrinha e fatie com um descascador de batatas e tiras finas, cubra uma forma com papel manteiga, disponha as fatias de abobrinha, cubra com alecrim e um fio de azeite, asse por 10/15 minutos ou até que as pontas escureçam.

purê de banana

Lave bem a casca da banana, corte as pontas e leve para cozinhar em água ligeiramente salgada com um pau de canela e um cravo. Quando estiver macia, descasque com o auxilio de um garfo, amasse bem, adicione algumas gotas de azeite de trufas misture bem e acrescente 1 ou 2 colheres de molho roux e o parmesão, reserve.

molho roux

Ingredientes:

1cl de sopa de farinha de trigo
1cl de sopa de manteiga
250 ml de leite
1 pitada de sal
1 pitada de noz moscada


Preparo:

Dilua a farinha em um pouco de leite frio mexendo para dissolver bem. Acrescente o restante do leite, a manteiga, sal e noz moscada e leve à fervura em fogo brando, até que atinja consistência de mingau. Aplique quando esfriar.

Passata de tomates

Ingredientes:

10 tomates bem maduros
Azeite
Orégano fresco
galho de alecrim
4 cabeças de alho picado
1 cravo
30 ml de vinho tinto de boa qualidade
Sal
1 talo de aipo (salsão) bem lavado


Preparo:

Para descascar os tomates acomode-os em peneira de nylon e despeje 1litro de água fervente, puxe a pele quando esfriar tire as sementes e refogue no azeite e alho, tampe a panela por alguns minutos e deixe em fogo brando. Quando começar a aguar junte o orégano, alecrim, cravo, e o talo de aipo. Mantenha o fogo brando e mexa até reduzir aproximadamente 1/3 do caldo. Retire do fogo e deixe esfriar antes de processar bem todos os ingredientes. Coe em peneira de nylon e retorne ao fogo brando. Adicione o vinho e tampe a panela. Desligue o fogo e deixe o vinho apurar, salgue a gosto.



Montagem:

Faça pequenos rolinhos recheados com o purê, arranje em refratário, cubra com a passata de tomates e o parmesão ralado, leve para gratinar e sirva com salada verde e vinagrete de maracujá.

vinagrete de maracujá

ingredientes:

suco de 1 maracujá
suco de 1 laranja
suco de ½ limão siciliano
pimenta ralada
1 pitada de sal
1 cl de sobremesa de mel

preparo:

bata todos os ingredientes e aplique

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Hormônios e antibióticos em nossos cardápios



Sempre me dá calafrios ao pensar no quanto consumimos de não comida em nossas refeições diárias. Os debates sobre o uso de hormônios e antibióticos em animais de abate são acalorados e os grandes produtores insistem em dizer que nenhum dos dois é usado em seus animais, mas o fato é que animais de abate em massa têm amadurecimento muito mais rápido do que animais criados de forma caipira, o que sugere hormônio de crescimento. Animais de abate em massa ficam expostos a doenças que se não detectadas rapidamente dizimariam a população inteira de um criadouro onde nascem, crescem e morrem confinados, e no caso de doença, como debelá-la num ambiente fechado e tão populoso, antibióticos? 
Os produtos desses animais também estão carregados dos remédios que ingerem além dos possíveis pesticidas agregados ao pasto comum e o produto das rações, perspectiva sombria...  Os vegetais que chegam às nossas mesas também não estão livres de venenos, ao contrário, os grandes produtores podem afirmar que não, porém na hora de exportar para países de primeiro mundo se não mudam as regras, o produto é rejeitado e eu me pergunto: se na atualidade nossa economia vai indo bem obrigada, porque as regras não mudam aqui também? Lutar pela qualidade do que comemos enquanto lutamos pelos direitos animais é um posicionamento político que exige ação, e ações nem sempre são fáceis de engolir. O que vemos no mundo é que boicotes e sanções são capazes de remover montanhas, e, no entanto, passivos como gado de abate continuamos a consumir indiscriminadamente todo o veneno que nos oferecem a preços exorbitantes, assistindo a proliferação de doenças, que sinceramente, dado os anos que existem e o dinheiro investido em pesquisa já deviam ter apontado alguma solução positiva. Não sou cientista, mas pesquisadora e observadora e acredito que a comida é grande causador das dificuldades na doença e na recuperação da saúde deteriorada, há sem dúvida outros complicadores que fazem parte do nosso cotidiano, mas a comida freqüenta nossa vida mais do que qualquer um deles e é na atualidade uma de nossas maiores obsessões. Se pesquisarmos do que é capaz o excesso ou a falta de hormônios ou de antibióticos, talvez reconsideremos nossas escolhas, o conhecimento é sempre a melhor arma de resistência que podemos ter e é tolice pensar e dizer que ignorar é uma bênção. Uma vez que cada um de nós passar a prestar mais atenção com o que se alimenta, vai ser possível evitar enormes dores de cabeça futuras e na ponta do lápis economizar uma fortuna em médicos e remédios. Vivemos um século ansioso, deprimido, obeso e apesar de tantos avanços não somos capazes de deter o desenvolvimento de uma simples gripe e isso é no mínimo estranho. Nossa imunidade a doenças é a cada dia mais baixa e estamos sujeitos a epidemias descontroladas e resistentes a antibióticos como nossos ancestrais do começo do século dezenove, estamos, no fim das contas, desamparados. Manipuladores de uma tecnologia super moderna não conseguimos reverter uma dor de cabeça ou um espirro em pleno século XXI, o que deveria nos levar a pensar que talvez precisemos rever muitos valores e investimentos que fazemos diariamente de olhos fechados. Orgânicos ainda parecem caros porque a manutenção da técnica depende do aumento no consumo, porém investir menos no que se come pode significar maior investimento em doenças em detrimento de uma boa qualidade de vida mais longa e saudável. Quando for comprar pense duas vezes no que que vai colocar no carrinho, a saúde agradece pelo cuidado. Bon appétit!

domingo, 20 de maio de 2012

Segunda-feira sem carne


Dia de céu azul e brisa fresca, combinação perfeita e característica de outono do Rio de Janeiro que exibe flores fora de estação salpicadas em cachos de diversas cores pelos canteiros naturais espalhados pela cidade. A mata atlântica que margeia a zona sul vai bem obrigada e exibe um verde mais pujante do que nunca, a natureza nessa época fica lavada e enxaguada por chuvas esparsas que dão uma folguinha do calor. Na Avenida Ataulfo de Paiva, mal as jacas despontam na esquina da Venâncio flores e já são arrancadas, muito não crescem nessa terra abençoada onde até o que não se planta propositadamente, dá. Me lembro anos atrás quando ainda nem tinha linha vermelha, dentro de um táxi rumo  aeroporto do galeão via Avenida Brasil, vi subindo de dentro de um bueiro um pé de chuchu, e por falar em chuchu...

creme de chuchu (por pessoa)

ingredientes:

2 chuchus descascados e picados
1 dente de alho bem picado
1 cl sobremesa de azeite
2 xícaras de *molho roux
2 a 3 galhos de cebolinha bem picada
1 cl de sopa de parmesão ralado
sal a gosto

preparo:

refogue o chuchu no alho e azeite até que amacie, deixe esfriar e processe. Acrescente o molho roux e sirva em bowls individuais, guarnecido com parmesão e cebolinha.


* Molho roux ou béchamel básico

Ingredientes:

1cl de sopa de farinha de trigo
1cl de sopa de manteiga
200 ml de leite
1 pitada de sal
1 pitada de noz moscada


Preparo:

Dilua a farinha em um pouco de leite frio mexendo para dissolver bem. Acrescente o restante do leite, a manteiga, sal e noz moscada e leve à fervura em fogo brando, até que atinja consistência de mingau. Aplique.


Polenta no azeite de trufas com couve arame e chalotas carameladas


Ingredientes para a polenta:

2 colheres de sopa de azeite
2 litros de água
1 colher de sopa de sal
1 bouquet garni
2 xc de fubá
2 cl sopa de parmesão ralado
azeite de trufas

Preparo:

Junte o bouquet garni a água já salgada para aquecer em fogo brando e acrescente o azeite, quando começar a borbulhar retire o bouquet e acrescente o fubá e o parmesão aos poucos sempre mexendo vigorosamente para não encaroçar, quando o fundo da panela aparecer 15/20 minutos e desligue o fogo. Unte levemente uma forma redonda antiaderente com fundo removível com azeite e despeje nela a polenta, pincele com azeite de trufas e disponha por cima alguns galhos de alecrim e leve ao forno quente por 5/10 minutos. Doure apenas, deixe esfriar um pouco e corte em fatias.

Couve arame

(não sou amiga de frituras, acho que essa é a única de minhas receitas fritas e deve ser bem sequinha, o azeite aqui não deve interferir no sabor final. Lembrando que azeite é óleo vegetal e que suporta altas temperaturas sem quebrar- http://www.oliveoilsource.com/page/heating-olive-oil )

Ingredientes:

1 pé de couve
1 dente de alho
azeite


Preparo:

Lave bem a couve corte bem fininha. Coloque o dente de alho e o azeite em uma panela de fritura e aqueça, quando o alho estiver começando a escurecer retire e ponha em pequenas porções a couve para fritar. Disponha sobre papel toalha para absorver o azeite e reserve.

chalotas (pequenas cebolas) carameladas

Ingredientes:

3 a 4 chalotas por pessoa
½ copo de suco de laranja acrescido de 2 cravos
1 cl de sobremesa de geléia de laranja
1 cl de chá de geléia de pimenta
1 cl de chá de manteiga

Preparo:

Derreta a manteiga em fogo baixo e acrescente as chalotas, refogue e junte aos poucos o suco e as geléias, cozinhe até que o suco tenha quase secado e as chalotas estejam carameladas.

Fool de maracujá

Ingredientes:

1 copo de iogurte caseiro bem drenado (receita nos posts mais antigos do blog)
½ pacote de gelatina de maracujá diet
1 cl de sopa de creme de leite dieta

Preparo:

Com um garfo misture bem todos os ingredientes e leve para gelar por 2 horas. Guarneça com sementes de maracujá ou folhinha de hortelã.

sexta-feira, 27 de abril de 2012


Andando na rota do oriente,

Existe um ditado árabe que aconselha: se a noiva não sabe preparar pelo menos quarenta e nove receitas com berinjela, ela não serve para casar... Pensando nisso no Rota do Oriente dou uma mãozinha, rs, não apresento quarenta e nove receitas porque assim não vale, mas já dá pra começar, segue um almocinho rápido para o fim de semana, bon appétit!


Tabule de quinoa branca e vermelha

ingredientes:

½ xc de quinoa branca
½ xc de quinoa vermelha
½ xc de trigo de quibe
um punhado de salsa e cebolinhas bem picadas
um punhado de hortelã bem picada
suco de ½ limão
azeite

Modo de preparo:

cubra com água e leve ao fogo os três primeiros ingredientes para cozinhar por 10/15 minutos, apague o fogo, deixe secar e reserve até esfriar, depois junte com os outros ingredientes e salgue se necessário


Tortinha de berinjela e queijo de cabra

ingredientes

1 xc de purê de batatas
2 cls de sopa de queijo cremoso de cabra
½ xc de ratatouille (a receita está num dos posts do blog e no livro)
tiras finas de berinjela salgadas salteadas e em azeite de trufas
2 torradas integrais trituradas grosseiramente

Montagem individual

Misture o purê com o queijo e reserve. Unte uma forma de fundo falso individual com azeite de oliva e arrume as fatias de berinjela no contorno interior da forma, comece a montagem espalhando o farelo de pão, seguido pelo purê, o ratatouille e termine com o purê, leve ao forno por 10 minutos, desenforme, guarneça com uma folha de manjericão e sirva com a salada.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Et Vive Troisgros!

Sou fã de bom humor e de cozinha bacana que tem não apenas boa comida, mas boa administração, funcionários que sabem o que fazem e delicadamente indicam, quando num muxoxo acho que o vinho, quem sabe pode estar frio além da conta sendo um tinto, ser essa é a temperatura ideal para diminuir a acidez da uva Gamay. O vinho escolhido foi o de rótulo da família Troisgros. A Boucherie do Troisgros é na Dias Ferreira, Leblon. Lindinha e bem tratada é servida por garçons que dançam com leveza pelo salão enquanto sugerem, servem e sorriem com naturalidade passeando entre as mesas. O melhor? Apesar de ser um “açougue” tem um rodízio de comidas vegetarianas excelente, além de oferecer de entrada aipim com brie, fondue de reblochon e salada com queijo de cabra, que ou muito me engano ou é do Capril De Ville. De repente foram aparecendo na mesa como num milagre batatas que poderiam ser chamadas de asas de anjo,fininhas, encaracoladas e fritas quase pra ninguém perceber que foram um dia mergulhadas em óleo,verdadeiras hóstias! Farofa com farinha grossa caprichada no alho,torradas compridas e transparentes, com manteiga, nada mais francês, e bolinhas de queijo de cabra cremoso com pimenta. O rodízio veio chegando cheiroso e rapidamente passou a delicioso assim que tocou nossos pratos; ratatouille (toujours ma préférée), chuchu fatiado e creio gratinado, tomates grelhados, purê de maçã com maracujá, purê de baroa, arroz maluco, salada de beterraba ao roquefort, enfim, uma farra! O vinho desceu lindamente acompanhado! No final o garçon nos ouviu dizer que era aniversário do Chico, meu filho, e todo animado já ia em direção ao bolo, mas foi barrado. Chico não gosta nem um pouco dessas coisas, o que foi realmente providencial, porque fomos brindados com um petit gateaux que explodiu em doce de leite mal sentiu o toque do garfo e veio muito bem acompanhado por sorvete de tapioca, um favorito sempre!
É claro que o chef e seu trabalho dispensam quaisquer comentários, mas é bom para vegetarianos saber que ele também pode ser apreciado por quem não come carne.
O artigo foi mesmo para matar as saudades, ando assoberbada escrevendo outro livro. Rota do Oriente vai bem obrigada, e deve ser lançado por esses dias, Assim que souber convido, espero que venham na noite de autógrafos e que gostem do resultado de minha viagem histórico/gastronômica pela Galiléia! Bom appétit toujour! Santé!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pastel de Feira

Manhã bacana, muito calor, tornozelo ainda inchado apesar das pernas pro ar uma quinta feira inteira, mas, pernas pra que te quero? Pra caminhar até Ipanema, engrenar no pilates e dar uma canja do que vai ser Pão & Meditação pra minha professora fofa, a Laura, o projeto deve começar no mês de abril, vamos ver se dá audiência, estou bem animada! Pernas pra que te quero de volta pra casa e o cheiro da feira invade o olfato. Passeio entre as barracas vistosas e provo manga, melancia e abacaxi, compro um que já vem descascado e sigo embriagada pelo rastro do pastel, a caminhada é curta e lá está a barraca com um povo super animado fazendo graça quase respeitosa com as moças que encostam no balcão. O chiado do óleo não para e nele mergulham-se os sabores mais variados, jabá, palmito, carne, queijo, frango com catupiry, além de quibe e bolinho de bacalhau, compra-se um pastel e leva-se uma variedade... Eu como vegetariana não sectária não ligo muito, não tenho aversão a carne e nem a gente, apenas algumas convicções, mas respeito quem pensa diferente.
O caldo de cana corre solto e algumas pessoas (Deus do céu!!!) bebem dois ou três copos e só de ver eu fico instantaneamente diabética! Mas entendo, sou filha de nordestinos e lá o povo bebe açúcar regado à café. Convenhamos que o açúcar foi explorado por Portugal no nordeste e apesar de valer ouro, os escravos viam apenas suas migalhas e vinhoto, então na ilusão de se alimentarem, “roubavam”açúcar que iam comendo, arruinando maravilhosos dentes africanos e estragando entre outras coisas a firmeza das suas peles.
Açúcar vira álcool, e é claro que nos engenhos a cachaça rolava solta, bem verdade que não para a boca de todos, enfim voltemos a feira antes que ela acabe, porque já passam das 11h 00 e agora o enxame engrossa, o caldo entorna e as sacolas de R$1 vão convidando a empregada e a patroa a encherem o carrinho enquanto do nada aparecem uns quantos moleques que se oferecem por um trocado pra levar tudo em casa. É quase uma comunidade agrícola, aqui todos se conhecem e volta e meia trocam uma graça ou uma nota de R$100, sem contrariedade alguma, aqui tudo anda na base da amizade.
Olhos sempre maior que o estômago e saio carregada e feliz, mas vou ter que sujeitar meus braços as sacas pesadas até em casa, uma boa caminhada. Mas valeu de repente essa parada na feira pra um pastel descompromissado que por sinal estava muito bom!
Bom fim de semana pour touts et bon appétit toujours!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Você sabe que trigo sarraceno não é farinha?

Há tempos não fazia galettes e resolvi me atualizar um pouco, para tanto entrei num fórum de discussões de galettes. Assim são os franceses, tão alucinados pela origem de sua comida que mesmo uma simples (Deus me livre que eles me ouçam!) galette tem fórum de discussão e provavelmente marca depositada. Mas não me alonguei mais do que o necessário quando percebi que o assunto ia dar pano para mangas e então deixei as perguntas que me pareciam pertinentes para uma próxima vez. Levaria horas a discussão entre leigos e chefs sacando da memória e dos livros de receitas dos ancestrais as mais variadas versões da receita, maravilhada escutei. Numa única coisa, quase, todos foram unânimes, o trigo sarraceno é o ingrediente básico para essa receita típica da Bretanha.
O trigo sarraceno é uma gramínea e não um cereal como parece à primeira vista, não contém glúten, é rico em ômega-3, vitaminas B1 e B2, fibras, minerais e aminoácidos essenciais, se adapta bastante bem a climas frios e sendo forte e resistente alimentou muitas gerações na Europa. Sua origem é asiática e na Rússia e no leste europeu é bastante apreciado. O sarraceno era uma “farinha de pobre”, como de resto eram todas as farinhas não refinadas, então a receita original de galette é bastante rústica. No fórum um dos participantes me contou que a sogra, que trazia a receita da casa da mãe, que trazia da casa da avó não usava ovos como muitos fazem hoje, porque ovos só passaram a ser acessíveis depois da segunda guerra. Ou seja, ela fazia uma galette à base de sarraceno, água e sal simplesmente, que é a que vou preparar. O nome galette também remete a biscoito, como pode ser a massa se misturada a manteiga e clara de ovos batidos, a definição etimológica de galette é de uma variedade incrível! Outro participante do fórum se divertia com as descrições técnicas de como virar uma galette na frigideira. De acordo com ele a avó não apenas misturava os ingredientes com as mãos como com elas espalhava a mistura na frigideira e depois de corada de um lado virava do outro, com a mão, é claro. Talvez o ovo que é estalado no meio da galette bretonne fosse a princípio acrescentado para dar substância a esse prato que é servido como principal nas refeições. É possível preparar a galette, rechear, fazer quadrados ou triângulos salpicar com um pouco de molho e parmesão e gratinar, não é muito ortodoxo, mas é bastante saboroso. Numa outra versão se pode cortar (com aros de inox), rechear e enrolar ou montar uma sobre a outra intercalada por recheio. Como comprei espinafre orgânico vou fazer essa última versão em camadas entremeada com creme de espinafre e para acompanhar champignons variados salteados na manteiga e um pouquinho de vinho branco, baby cenouras no vapor com coentro ou salsinha finamente picada e pupunha assada ou grelhada com sal apenas. Tudo arranjado lindamente num prato e acompanhado de vinho Sauvignon Blanc de Pays d’Oc estupidamente gelado, que ninguém é de ferro!
Bon appètit!


Galettes bretonne à belle mère

Ingredientes:

100g de farinha de trigo sarraceno
60g de farinha de trigo comum
1/4 colh. (chá) de sal
300ml de água fria
100ml de leite integral (opcional)
2 colh. (sopa) de azeite extra-virgem

Preparo:
Misture os ingredientes secos e aos poucos inclua os molhados batendo bem com um fouet para aerar a mistura. Deixe descansar em temperatura ambiente por 2 horas.
Aqueça uma frigideira baixa, salpique com manteiga e espalhe com papel toalha repetindo esse procedimento a cada galette depositada. Com uma concha derrame um pouco da mistura na frigideira e espalhe a massa por toda a superfície, quando dourar vire do outro lado, depois retire e reserve.

Creme de espinafre

Ingredientes:

Um molho de espinafre bem lavado, seco e picado
1 dente de alho picado
½ cebola picada
1 cl de sobremesa de manteiga
sal a gosto

Preparo:

refogue os ingredientes e misture ao béchamel

Molho roux ou béchamel básico

Ingredientes:

1cl de sopa de farinha de trigo
1cl de sopa de manteiga
250 ml de leite
1 pitada de sal
1 pitada de noz moscada


Preparo:

Dilua a farinha em um pouco de leite frio mexendo para dissolver bem. Acrescente o restante do leite, a manteiga, sal e noz moscada e leve à fervura em fogo brando, até que atinja consistência de mingau mole. Aplique quando esfriar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Judy Garland e o quiabo

Saímos ontem, eu e minha prima Lucilla, para ver Judy Garland, muito, muito bom! Como era no Fashion Mall, demos uma esticadinha até o Troisgros, et comme toujours c’était très Troisgros...Sou muito suspeita pra falar porque sempre acho que gente que tem gastronomia na veia dificilmente erra na mão, eu sou fã das misturas do chef e embora não seja muito fácil para mim vegetariana aproveitar muito o cardápio de seus restaurantes, me surpreendo até mesmo com as saladas.E enquanto comíamos íamos esticando nossos fios de meada e tricotando muito, o bastante para ela “se queixar”que ultimamente eu não estava falando e nem cozinhando no blog com os frutos da estação...Afinal o principio básico do orgânico é a sazonalidade e no último livro que fizemos, Letícia e eu, uma lista de temporadas de floração e frutificação foi publicada ilustrando nossa intenção culinária. Então, hoje na hora das compras me deparei com lindos quiabos orgânicos que uma vez lavados com limão (para evitar a baba em excesso) e ligeiramente refogados, salteados realmente pra não empaparem, leva uma pitada de curry e sal para cobrirem um purê de aipim sem leite e com alguma manteiga e sal a gosto acomodado em aro de inox. Feijão preto bem temperado, couve manteiga refogada e abóbora em cubinhos guarnecidas com salsa vão de um lado do enformado de aipim no prato e do outro pode ir uma banana da terra fatiada e assada com um pingo de açúcar e canela em pó e talvez até uma farofinha de alho na manteiga. De sobremesa figos, os de Valinhos estão em plena temporada, com a casca muito bem lavada porque o esbranquiçado sobre ela é mistura de cal e sulfato de cobre, substância usada para prevenir pragas, dizem que é própria para consumo humano... Chama-se calda bordalesa ou mistura de Bordeaux, pode? Fala-se assim desse fungicida como se fosse um saborosíssimo molho de vinho tinto... Mas, voltando aos figos; corte o figo ao meio longitudinalmente e para cada figo misture 1 cl de sopa de vinho do porto com 3 a 4 gotas de azeite de trufas.Aqueça bem uma frigideira e derreta uma colher de cafezinho de manteiga deixe aquecer bem e coloque os figos, cascas na frigideira, regue com a mistura de porto e salpique ligeiramente com açúcar cristal. Fogo brando, frigideira tampada por 5minutos. Sirva os figos com sorvete de creme salpicado de canela e por cima fica bonito um pau de canela quebrado, bon appètit!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Et pour finir un vendredi fatigant…

Uma meia garrafa de Bordeaux Chateau de Garguille 2009, e para acompanhar ovos mexidos acrescidos de um tanto de leite, outro de parmigiano reggiano e uma pitada de pimenta do reino ralada. Purê de batata orgânico acrescido de azeite de trufas e enformado em aro de inox guarnecido com espinafre (orgânico, bien sur) cozido no vapor. Na lateral couve manteiga finamente fatiada e refogada com alho e tiras de pão integral de grãos ligeiramente tostados no grill. De sobremesa leva-se ao fogo brando em pouquíssima água e 1 pau de canela algumas bananas passas para quentes acompanharem sorvete de baunilha. A receita do sorvete ta lá no blog, é só procurar, et se par fois je fait de blague avec la langue, c’est de blague non plus. Trés bom appétit toujours!

sábado, 28 de janeiro de 2012

et voilà o almoço de sábado!

Friozinho bom que essa época do ano só tinha visto em Três Coroas, no Rio Grande do Sul, então dá até pra encarar uma comidinha com mais substância e calor sem ofender os humores e o estômago, então vamos lá. Dá pra começar com uma versão fácil de nhoque de aipim (mandioca, macaxera) ao molho de pesto rápido, uma saladinha e de sobremesa banana condimentada. O aipim da feira orgânica tem vindo tão macio que mal aferventa se desmancha, não é muito mais caro do que o comum e garanto que o investimento vale à pena, as folhas do pesto e os ingredientes da salada então, sem comparação, não arisque sua receita, garanto que produto orgânico faz uma tremenda diferença! A banana ideal pra sobremesa é a d’água (nanica), mas ouro e prata substituem bem. Mãos à obra então et bom appetit!

Ingredientes do nhoque:

½ kg de aipim orgânico cozido,
2 cls de sopa de azeite aromatizado
1 cl de sopa de azeite de trufas
1 xícara (chá) de farinha de trigo
½ xc de parmesão ralado

Preparo

Afervente em panela de 2 a 5 litros água com sal, depois de fervida a água mantenha o fogo brando e a panela tampada. Desmanche o aipim em purê e acrescente os azeites, misture bem e adicione o queijo. Acrescente a farinha aos poucos até conseguir uma consistência de manejo o que pode pedir menos ou mais farinha do que o indicado- verifique se é preciso adicionar sal antes do próximo passo-. Enfarinhe uma superfície onde possa fazer “cobrinhas” e corte a massa do tamanho desejado. Coloque pequenas porções de nhoque por vez e quando subirem à tona retire com escumadeira, escorrendo toda a água. Arrume cuidadosamente em travessa untada com azeite aromatizado e regue com o pesto. O ideal é não gratinar com o pesto que em contato com o calor se liquefaz.

Ingredientes do pesto:

1 xc de manjericão
1 xc de rúcula
½ xc de azeite
3 dentes de alho grandes e bem picados
2 cls de sopa de castanha de caju picada
50gr de parmesão ralado

Lave bem e seque as folhas e a seguir processe todos os ingredientes, acrescente sal se necessário.




Salada fresca

Ingredientes: (use o descascador de batatas ou o fatiador de queijo)

Cenoura fatiada bem fina
Pepino fatiado bem fino com casca
Rabanetes ralados com casca
Punhado de passas louras mergulhadas em suco de laranja polvilhado de canela
Punhado de palmito fatiado
*Azeitonas pretas descaroçadas e desidratadas

Preparo:

Lave e seque bem os ingredientes e arrume em bowls individuais, tempere a gosto.

*Azeitonas pretas descaroçadas e desidratadas
Coloque em forma pequena um punhado de azeitonas pretas descaroçadas (existem descaroçadores de azeitonas à venda no mercado) leve ao forno quente por 10/15
minutos ou até que comecem a “enrugar” , deixe esfriar e utilize.


Banana condimentada

Ingredientes:

1 banana por pessoa
Suco de ½ laranja pêra
1 pimenta biquinho
Uma mistura de:
1 cl de chá de canela
1 cl de chá cravo
½ cl de chá de cominho em pó
½ cl de chá de pimenta do reino em pó
½ cl de chá de curry em pó

Preparo:

Pique miúdo a pimenta e misture com o suco. Lave bem a banana e corte a casca com faca afiada no sentido vertical, mas não descasque. Coloque em tabuleiro abra um pouco e com cuidado a casca e regue a banana com os temperos. Forno médio por 15 minutos ou até que esteja macia e perfumada. Sirva em pratos individuais, com a casca totalmente aberta.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Com açúcar e com afeto

De ontem para hoje presenciei três cenas que me fizeram observar, talvez com mais tolerância, o porquê de vivermos numa sociedade onde ninguém quer envelhecer.
Há os pontos óbvios de vivermos em tempos descartáveis e do desprezo por quem não exerce função produtiva ou que já não produz com a mesma avidez, desprezo não desdenhoso, mas indiferente.
Meu sogro era médico e me dizia que tudo o que “somos” é basicamente hormônios, produzidos à medida que deles se tem necessidade, ou seja: numa etapa fisicamente produtiva. Eu achava que era exagero médico, mas a verdade é que ele foi um leitor precoce da época em que vivemos e que na verdade sempre esteve à frente do seu tempo. Aqui não vai crítica a procedimentos de rejuvenescimento, quem sou eu pra criticar os que desbravam essa selva em que vivemos? Ao contrário, é bom nos cuidarmos para sermos independentes o maior tempo possível, o que não quer dizer adolescermos a ponto de disputarmos um modelitcho numa boutique para adolescentes. O conhecimento e a sabedoria nem sempre andam de mãos dadas e no embate imaginário entre as duas forças, quem vence é Lorde Google. Se o conhecimento está na ponta dos dedos para que sabedoria? Esse conceito é tão radical que mesmo quando já não é mais possível correr a uma velocidade enlouquecedora, corremos. Corremos com medo de ficarmos sós, com medo de sermos descartados, amedrontados pelas decisões e caminhos tomados no passado, quando achávamos que estávamos apenas diante de um ensaio e que em algum momento um diretor teatral abriria as cortinas do palco para descobrir nosso inigualável talento, e assim redimidos viver nossa vida plena. Enquanto vivemos vítimas voluntárias do julgamento alheio somos como a mosca que fascinada pelo brilho da lâmpada está cada vez mais próxima do fim.
Com açúcar e com afeto fui ao doce predileto, Chico Buarque, ontem à noite. Sentada na platéia admirei o senhor de setenta, mais seguro do que nunca e tranqüilo com ele mesmo retratando um mundo em doses menores, talvez, ciente da idade e do seu tempo.
O show foi até bem tarde, a fome bateu, mas o sono venceu. Assim que: a receita imaginada fica pro fim de semana. Bon appétit toujours!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A história do aipim e do couscous

Acabo de chegar de um almoço muito saboroso promovido pelo movimento slowfood do Brasil. A chef Tereza Corção preparou um cardápio muito saboroso com opção vegetariana a base de aipim. Para a entrada um cuscuz (de aipim) seguido por baby aipim com desfiado de alho poró e para terminar pudim de açaí (acho que com farinha de aipim) com 2 coulis e ‘torresmo’ de açúcar e farinha de mandioca, pode parecer repetitivo, mas garanto que não..
O aipim é de cultura endêmica brasileira e é muito interessante como se intercala com cardápios de outras culturas sem a menor dificuldade, um exemplo disso é o cuscuz ou couscous procedente do oriente médio. No Brasil o cuscuz chegou com a comunidade marrana vinda do Marrocos que se instalou no norte do país e usou a mandioca (aipim, macaxeira) no seu preparo. O couscous é original do Magreb (Marrocos) e os marranos que aqui chegaram não encontrando cevada, painço e nem outros grãos com os quais estavam acostumados a preparar o prato mais tradicional da sua culinária conheceram a farinha de mandioca com os nativos da Amazônia e do Pará adaptando a receita original a farinha local sem deixar nada a dever ao prato original.
Os primeiros marranos chegados do Marrocos alcançaram o norte do país por volta do século XVIII e muitas das comidas que agregamos ao nosso cardápio, principalmente no norte e nordeste do país têm raízes nesses judeus ibéricos cristianizados por força da Inquisição que imigraram para o Brasil. Talvez alguns pratos como o cozido e a feijoada de origem hispano-portuguesa, além dos outros ensopados da culinária ibérica e holandesa tenham origem na "adafina" (coisa quente) marroquina, o Tcholent, (chaud lent?) prato tipicamente judeu que celebra o shabat. Seu preparo começa quando a primeira estrela desponta no céu da sexta-feira e termina de cozinhar lentamente no calor para servido na hora do almoço do sábado.
Muitos de nossos hábitos e também nosso mobiliário são reflexo da influência dos marranos na vida do povo brasileiro. Corria a boca pequena, por exemplo, que algumas mesas usadas nas copas de engenhos tinham gavetas nas quais comensais escondiam a comida quando visitas surpresas apareciam, avareza? Mais provável que tivessem medo de ser flagrado em seus pratos alimentos kasher ou do ritual do shabat o que comprometeria a fidelidade de seu juramento como cristãos novos e poderia levá-los às mãos da inquisição.
A comida tem essa coisa fascinante e poderosa capaz de fazer tradições diferentes juntarem-se num único prato, unindo cristãos e marranos, gregos e baianos, ou não...