quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Appellation d'origine contrôlée


Digam o que disserem, mas em se tratando de honestos prazeres os franceses são o que há! Na França, patrimônio de orgulho nacional latícínios e vinhos são d'appellation d'origine contrôlée, que é uma forma de controle de produção que evita que se compre gato por lebre. Em se tratando de queijos (laticinios em geral) e vinhos tudo é devidamente mapeado e medido, cada terroir tem tantas parreiras que produzem tantos litros e cada vaca segue o mesmo mapeamento, assim nada leva um pouquinho mais daquilo ou um pouquinho menos do outro... Não quer ser appellation d'origine contrôlée? Pas de probléme, mas nada de rótulos, vire-se como puder! 
Desde há séculos a comida produzida em solo frances é orgulho nacional e patrimônio cultural, diversas confrarias e marcas registradas, como é o caso da tarte tatin ou do champagne, dão aos franceses o que eles merecem: o título de experts dos sentidos, porque claro, não vamos nos esquecer dos perfumes que fazem parte dessa cadeia sensorial francesa, seja em vidros ou em pratos e nem dos filmes e canções que levaram as almas mais românticas a se debulharem entre uma e outra tragada de um puro gitane ou gauloise acomapanhado de um pichet de bordeaux num dos milhares de cafés e bistrôs do país. Mas como diz meu neto, nem sempre os contos terminam com " e foram felizes para sempre", assim as grandes marcas de turismo gastronômico invadiram a França e bom, a desconfiança passou a fazer parte do cardápio do dia. Os pequenos negócios tradicionais foram a bancarrota e os que insistiram em sobreviver foram se adaptando as novas regras de consumo absolutamente contrárias aos princípios da gastronomia francesa. Hordas de turistas viajando para respirar Paris, mas presas constantes dos Mac Donalds e Starbucks da vida abriram porteiras para um comércio insosso e pouco honesto que feriu fundo o orgulho nacional. Nada contra o turismo, mas a França não é só Louvre ou torre Eiffel, a França é acima de tudo um joie de vivre que está nessas pequenas jóias que só se encontram lá, reproduzidas aqui e acolá por poucos e grandes chefs franceses que fora de seu país nos dão imenso prazer em frequentar as mesas de sua casa e claro que não são prazeres baratos, mas arrancam suspiros inesquecíveis do fundo da alma que nos fazem crer que depois da primeira garfada já se pode morrer em paz e adentrar o reino dos céus sem escalas. Pois para a felicidade de todos que apreciamos a culinária francesa o governo se encheu de brios e colocou na mesa uma nova legislação pra gourmet nenhum botar defeito; a comida nos restaurantes franceses vai ter que contar ao que veio,e, de onde veio! Já no fim desse ano os restaurantes serão obrigados a informar a origem de seus alimentos deixando assim que seus clientes saibam se a comida servida é fresca ou congelada, se é preparada no estabeleimento ou se foi pré preparada em outro local, se a medida agradou a todos? É claro que não, mas para nós que respeitamos o alimento e de uma forma ou de outra fazemos dele nosso ganha pão, a medida é sensacional e deveria não apenas ser estendida para todos os países, mas defendida por todos os consumidores! 
Há que se tirar mais uma vez o Toque Blanc (chapéu de chef) para a gastronomia francesa que não se rende ao mal gosto pouco saudável das grandes cadeias de fast food! Vive la France!