quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Direito de Envelhecer

Essa semana li uma reportagem de um famoso ator de teatro inglês que retrata bem a tragicomédia que é o nosso cotidiano. Há atualmente um irritante e crescente movimento politicamente correto que não apenas é cansativo, mas que no pretenso intuito de nos fazer sentir incluídos cria uma camisa de força da qual não podemos escapar porquanto não podemos nos expressar fora dela sem risco. Na entrevista o ator vai registrando a dificuldade que com mais de oitenta, quase noventa anos enfrenta e que eu particularmente acho que tanto a sociedade como os familiares resolveram adotar um tom otimista beirando a piléria para se redimirem da responsabilidade que não querem assumir, seja com a real situação do velho, seja com a possibilidade de, se sobreviventes, a velhice vir bater à porta ou com a irresponsabilidade de não se designar verbas específicas para uma idade em que não necessariamente a improdutividade é uma escolha, mas que as condições fisicas e às vezes psiquicas impõem. É comico como o ator transpõe seu cotidiano dizendo que recusa sistematicamente os já não muitos convites para almoços e jantares, porque simplesmente suas melhores roupas vêm sendo vítimas do tempo e ele, a exemplo de muitos outros contemporâneos vem se tornando um usurário contumaz, porque a cada dia o amanhã fica mais incerto e solitário. Com certeza por não querermos lidar com essa realidade e freneticamente buscarmos ignorá-la passamos por processos que prometem nos aliviar de nossa própria (real)idade com milagres que nos custam fortunas e tempo precioso que talvez pudéssemos dedicar aos amigos queridos, aos familiares que inevitavelmente irão embora e de quem mais tarde talvez lembremos com uma saudade distanciada, porque na verdade estivemos distantes. Nada contra qualquer coisa que nos faça sentir melhores, mais bonitos e mais saudáveis, ao contrário, uma velhice independente é verdadeiramente invejável e quem sabe com o passar dos anos e com tudo que vamos descobrindo a velhice passe apenas a ser uma contagem que não se sinta no corpo e nem na mente, mas apenas na carteira de identidade? A entrevista segue numa mistura de exaltação e melancolia,cubos de gelo num copo de whisky e a certeza de que o tempo não deixa barato. Queremos muito uma felicidade sem limites, mas...sem limites não há nada! Talvez a sabedoria esteja no escancarar e conter, no inspirar e expirar com naturalidade, no trilhar caminhos do meio quando existe a possibilidade e exagerar, apenas às vezes, como convém à sensação de liberdade. Comer se, e quando possível, até haver saciedade, misturar cores no prato e celebrar com um bom, um excelente vinho, quando se tem oportunidade! Não perder as comidas imperdíveis, as caminhadas oxigenadas, o filme, a peça e a ópera de que mais se gosta, porque tudo, absolutamente tudo, muda inevitavelmente ao sabor do vento! Evitar, pelo menos nas 2as feiras quando o corpo sofre os excessos da semana e do fim dela, qualquer tipo de carne, dar um tempo para o paladar e a resistência do corpo para o excesso de hormônios injetados em todos os animais de corte e principalmente não guardar as coisas "para sempre", porque nada dura tanto tempo assim. Bom dia, bon appétit e lembre de guardar as 2as feiras sem carne, com o tempo seu corpo vai agradecer!