sábado, 3 de abril de 2010

Big oyster

Lendo Big Oyster de Mark Kurlansky pude observar mais de perto aquilo que de uma maneira ou de outra, todos suspeitamos, ‘’da capacidade que a comida tem de nos conectar com a profundidade do nosso lugar no mundo e mostrar como nosso alimento está vitalmente ligado à saúde do mundo natural (*Alice Waters)’’.
Ostras foram durante séculos fonte de alimento, moeda de troca, motivo de socialização e inspiração para pinturas de natureza morta, letras de música e poesias e ingrediente indispensável na culinária européia. Bingo!
Surgia o primeiro elo de contato entre os nativos americanos e os homens salgados, que assim lançaram suas âncoras no rio Hudson para desfrutar de tudo o que essa terra fértil em que chegaram podia proporcionar e foram felizes para sempre, ou pensaram que seriam.
Os frutos que crescem de forma espontânea, sejam quais forem, contam a história de seus habitantes, seu tipo de pele, altura, doenças mais ou menos características, falam de sua tradição, dos alimentos que sempre circularam na família e que perderam o cunho de segredo de estado desde que resolvemos dissecar cada alimento até sua última fibra para saber qual a propriedade, a vitamina ou o mineral que contêm e em que quantidade irá nos proporcionar o que.
Comer, como os demais atos prazerosos, é mais uma tarefa a ser cumprida diariamente para medir nosso desempenho.
A natureza criou sem nossa interferência e durante muitos séculos, alimentos próprios a cada estação e aos humores de nossa digestão.
Aquilo que crescia num dado país em tal época definia claramente a estação e o tipo de atividade desempenhado em uma comunidade em determinado tempo.
Parece que nossa insistente interferência atrapalhou tanto esse processo que até mesmo nossa identidade alimentar, leia-se solo e clima, foi ficando confusa.
Atualmente são diversas as intolerâncias alimentares, e cada vez mais comuns, e eu não me lembro de nada parecido quando era pequena e comia a comida preparada ou orientada por minha mãe e minhas tias.
Esquecemos, e talvez nosso corpo também, do conforto de uma comida caseira, sem tanto gelo ou aditivos em seu contorno tão bem aparado que mesmo as frutas, legumes e verduras passaram a ter um perfil industrial, nos fazendo acreditar que a natureza realmente arquiteta produtos com simetria e gosto de enlatado.
Falamos da saúde japonesa e da mediterrânea com a boca cheia de propriedade e nos empenhamos em seguir sua dieta para sermos mais saudáveis, mas eu me pergunto se quando lá as comidas modernas começarem a fazer efeito contrário, qual a dieta que iremos adotar?

*Alice Waters, chef, escritora e proprietária do Chez Panisse, é uma Americana pioneira e defensora da filosofia de uma culinária baseada no uso dos ingredientes mais frescos e de melhor qualidade, produto de cultura local auto sustentável.