domingo, 26 de maio de 2013

Apontador de lápis e vendedor de sinos!



Lendo o artigo sr. Lápis no Globo de sábado no caderno Ela me veio imediatamente a cabeça a surpresa ao me deparar com uma pequena loja de sinos em Berlim, num quartier simpático do Mitte. O que leva uma pessoa a deixar de lado uma carreira de sucesso como cartunista para ser apontador de lápis ou faz com que alguém abra uma loja de sinos em Berlim como se estivesse na fronteira do Nepal ou o Butão, ou vizinho ao muro de um templo budista? Respostas urgentes para esse blog!
A caminhada no Mitte na 5a feira foi testemunha das várias lindas e delicadas surpresas que se escondem nos micro centros comerciais a céu aberto que ficam entre os edifícios residenciais de três ou quatro andares que abrigam desde uma boutique de chocolate artesanal e uma pequena fábrica/loja de balas onde um chefe baleiro ministra aulas lotadas a ateliers de joias e roupas impossíveis de se sobreviver sem, o design está nos mínimos espaços e nas mínimas coisas na Berlim que já foi reconhecidamente o centro cultural europeu e continua arrojada, descolada e charmosa. Está-se numa capital, mas repira-se ares de província onde pais carregam os filhos em "carruagens" pequenas acopladas as bicicletas e onde não se escutam freadas e nem buzinas. Fumaça? Nem pensar! Berlim é ecológica, tudo se transforma e se recicla.
Em janeiro de 1933 o partido nazista tomou o poder e com ele a comunidade judaica em Berlim que tinha 160 000 moradores desapareceu do mapa. Entre 1943/1945 a cidade foi destruída por ataques aéreos e  ressurgiu das cinzas e marcas delas são hoje monumentos ou testemunhas de uma tristíssima página da sua história que visitamos no Pauly, restaurante contemporâneo que funciona onde foi o antigo colégio de meninas judias, um edifício que depois da guerra foi doado a comunidade judaica e que por 30 anos ficou desativado, sem que surgisse coragem para fazer alguma coisa com ele até que finalmente uma bienal arriscou o espaço e foi um sucesso, uma surpresa espera na fachada aos que forem visitá-lo.
Uma parte do Mitte é bairro judeu e aqui e ali uma sinagoga, um restaurante, um centro cultural e galerias de arte e o imperdível Beth Cafe, que hão de pensar se tratar do café da Beth, mas...Ledo engano, beth aqui é casa ou seja: casa do café=cafeteria, lá não se pode fotografar, usar celular ou computador e não sei precisar se por motivos de segurança ou religiosos. O café tem comida kosher, e, portanto, bacana também para vegetarianos, quando cheguei já não tinha mais cheese cake, uma especialidade que ficaram me devendo e vou cobrar porque cheese cake judaico É, os cheese cakes americanos são filhotes dele.
Além do Mitte, onde fiquei com o Gustavo (Mancini) há muita vida em Berlim; museus, galerias de arte, música e dança, tanto clássica quanto contemporânea, e que sorte (!) Anish Kapoor estava lá com todos os vermelhos, nos deixando quase sem ar com sua ousadia orgânica inenarrável, sai-se da exposição cheio de vida e certezas que dois minutos depois desaparecem num copo fumegante de chá de hortelã fresco.
Os bondes cortam a cidade que deve ser vista assim, em cima do asfalto, ainda que a rede de metrô seja boa e bem completa em dias ensolarados vale olhar os poucos monumentos que sobraram ou a moderníssima Berlim Oriental de arquitetura espacial. Come-se e bebe-se maravilhosamente bem nos grandes ou pequenos, caros ou razoáveis cafés, bistrôs e restaurantes e os pães são absolutamente maravilhosos, não apenas os pretos nos quais são experts, mas também os brancos de cebolas refogadas e de alho negro assado.
É agora a boa hora de Berlim, os turistas ainda não chegaram e o sol começa a despertar antes das 05h30 e só vai dormir depois das 22h e antes de ir pra casa vale uma passada no pequeno salão de bailes na Auguste Strasse, perto do Pauly, lá no Mitte onde fiquei hospedada.
Bom domingo, bon appétit et a bientôt!

Nenhum comentário:

Postar um comentário