quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Do Tao ao Zen (cerimônia do chá)



 
A cerimônia do chá foi um ritual desenvolvido pelo zen budismo que aos poucos foi esquecido na China, mas encontrou eco num Japão admirador na época dos modismos chineses. De acordo com o livro de hábitos e costumes do povo chinês a cerimônia teve início quando Kuanyin* ofereceu uma xícara de chá a seu professor, Lao-Tzu fundador do taoísmo.
A Cerimônia do Chá ou Caminho do chá , o cha-do, é a expressão mais antiga e mais profunda da devoção oriental. O ritual que tem raízes na tradição zen obedece a movimentos seqüenciais delicados e precisos como numa dança onde a concentração deixa de fora tudo o que não é chá, descansando no espaço não conceitual, em harmonia com a natureza.
Wabi, (despojamento), Sabi (unidade) Shibui (beleza incondicional) e Fura (integração), são um convite do Tao para observador e observado se fundirem em harmonia e união.
Existem percepções que podem ser experimentadas, mas são dificilmente descritas com sucesso através dos conceitos ou palavras, o Wabi Sabi é uma delas. A proposta básica é ter como referencial uma estética bem diversa dos padrões de beleza, perfeição e enquadramento aos quais somos habituados desde o nascimento, que por serem padrões inatingíveis nos levam a uma experiência superficial e angustiante da existência.
Wabi Sabi é um convite para a contemplação das coisas mais simples e tangíveis de uma forma direta sem o prejuízo da preferência ou da rejeição. Nascido no seio da cultura Zen budista o Wabi Sabi representa a maneira dos monges encararem a beleza e a impermanência da existência, permeada pelo despojamento, simplicidade, humildade, contenção, contentamento e melancolia, tendo como pano de fundo a sabedoria artística da própria natureza.  
O ideograma chinês que representa a casa de chá (sukia) é um conceito que pode ser traduzido como a morada da vacuidade, uma referência budista onde forma e vazio são uma coisa só. O sukia não é erigido para a posteridade, construído de maneira a refletir a existência representa a temporalidade e a impermanência. A palha que o cobre sugere perecibilidade, os pilares finos que o sustentam representam a fragilidade da existência, o bambu usado como apoio remete à leveza com que a existência deve ser encarada e os implementos exibidos são rústicos e despojados refletindo o desapego. No sukia a decoração é simplíssima, um arranjo floral, a representação de um caractere pintado em bambu e pendurado numa das paredes que descreve de forma pictórica algum evento ligado ao fluxo da natureza. Os números pares de utensílios são evitados na casa de chá e representações de indivíduos não são exibidas, o desafio é criar um ambiente com diversos materiais aparentemente incompatíveis entre si, que estão, no entanto, intimamente ligados à cultura oriental criando um efeito final da beleza como expressão de naturalidade e relaxamento.

*Kuanyin- forma feminina de Avalokitesvara ou Cherenzig, o Buda da Compaixão

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